Inteligência Artificial Generativa em Portugal: uma perspetiva sobre os desafios e oportunidades
Num mundo cada vez mais moldado pela inteligência artificial generativa (IA Gen), as organizações enfrentam desafios e oportunidades únicos. Um recente relatório do World Economic Forum, publicado em 25 de novembro de 2024, oferece insights valiosos sobre as tendências globais nesta área. Embora o estudo aborde principalmente economias robustas, como se aplicam estas lições a um pequeno país como Portugal, com uma economia frágil, mas uma capacidade de inovação surpreendente?
Aqui fica a minha análise e reflexão, adaptada à nossa realidade.
1. Organizações orientadas por dados têm uma vantagem inicial.
O relatório destaca que as organizações que investiram ao longo do tempo na qualidade, infraestrutura e segurança de dados estão melhor posicionadas para adotar a IA Gen. Em Portugal, a realidade é menos otimista. Embora existam exemplos notáveis, como startups de renome internacional, muitas empresas ainda lutam para implementar práticas básicas de gestão de dados. No entanto, para estas organizações, a lição é clara: é fundamental investir em bases sólidas de dados para competir no panorama global da IA.
2. Adotar com prudência é fundamental.
As experiências dos primeiros adotantes mostram que a experimentação controlada é essencial. Empresas portuguesas devem seguir este exemplo, testando soluções de IA em pequenos grupos antes de uma implementação mais ampla. A pressa é inimiga da eficácia, especialmente num contexto em que as organizações têm recursos limitados para corrigir erros.
3. Consciencialização sobre riscos e ética.
Privacidade, segurança de dados e enviesamentos são preocupações crescentes. Num país onde as regulações europeias como o AI Act da União Europeia têm impacto direto, esta consciência é vital. As empresas portuguesas, em particular, devem adotar uma postura proativa, conduzindo testes rigorosos e garantindo que as suas práticas estão alinhadas com as melhores normas éticas.
4. A produtividade melhorada deixa perguntas no ar.
O relatório aponta ganhos impressionantes de produtividade, mas também questiona: como usar o tempo livre gerado? Em Portugal, onde muitas PME operam em ambientes de alta pressão, esta é uma oportunidade para repensar o papel dos colaboradores, envolvendo-os em tarefas mais criativas e estratégicas. No entanto, sem uma estratégia clara, este "tempo livre" pode transformar-se em ineficiência ou desmotivação.
5. A qualidade do trabalho é uma prioridade.
Além da produtividade, a melhoria na qualidade do trabalho é um motor crucial para a adoção da IA. Em Portugal, isto poderia significar serviços mais precisos na saúde, turismo ou agricultura, áreas em que somos reconhecidos pela excelência. A IA pode ajudar a garantir consistência e aumentar a satisfação dos clientes, se implementada com cuidado.
6. A confiança na tecnologia ainda precisa de ser construída.
Muitos colaboradores, especialmente em setores administrativos, mostram desconforto com a IA. Em Portugal, a formação e o upskilling são fundamentais para desmistificar a tecnologia e mitigar receios. A promessa do relatório de que 44% das competências dos trabalhadores serão transformadas nos próximos cinco anos é um alerta para os empregadores portugueses: investir nas pessoas é tão importante quanto investir na tecnologia.
Vejam o meu próximo artigo na revista Human Premium de dezembro de 2024.
7. Gestão da mudança é imprescindível.
A adoção de IA requer uma mudança cultural significativa. Portugal, com uma estrutura empresarial ainda muito hierárquica, enfrenta o desafio de preparar líderes e gestores intermédios para esta transição. Estas figuras são cruciais para identificar áreas de impacto e liderar equipas num período de transformação.
Para saberem mais sobre este tema podem pedir-me para organizar a palestra "ESCUTAI® - Estratégia e Cultura em Tempos de Alavancar a Inovação".
8. Quem realmente usa a IA?
Enquanto algumas organizações relatam que 80% da força de trabalho utiliza IA, muitas outras ainda não sabem quantos colaboradores aproveitam as ferramentas disponíveis. Em Portugal, a acessibilidade pode ser uma barreira: a implementação depende de orçamentos limitados e de uma apetência por risco que muitas vezes está ausente.
Podem aprender um pouco se quiserem, assistindo aos meus Webinars Gratuitos, aos dias 11 de cada mês. Inscrevam-se no site UpSideUp em: https://www.upsideup.pt/webinarregisto [temas variam todos os meses].
9. Sustentabilidade e IA: uma lacuna por preencher.
A energia consumida pelos modelos de IA Gen, como o ChatGPT, é significativa. Apesar de Portugal ser um líder em energias renováveis, poucos têm uma estratégia clara para usar IA de forma sustentável. Esta deveria ser uma prioridade, alinhando a inovação tecnológica com os nossos objetivos climáticos.
10. Humanos no centro: a regra de ouro.
O relatório termina com um aviso essencial: retirar os humanos do processo é um erro. Em Portugal, este princípio é ainda mais relevante, dada a dimensão relacional do nosso mercado de trabalho. A validação humana é crucial, não só para garantir a qualidade dos resultados, mas também para manter os valores éticos e culturais que definem o nosso país.
Conclusão
Portugal, com a sua economia vulnerável, mas um espírito inovador resiliente, tem uma oportunidade única de aprender com os primeiros adotantes globais da IA Gen. A implementação bem-sucedida dependerá da conjugação de tecnologia, formação e gestão da mudança. E, sobretudo, da nossa capacidade de manter os humanos no centro da equação, garantindo que a IA não é um substituto, mas sim um amplificador do nosso potencial.
Se quiserem ler o relatório completo do World Economic Forum, podem aceder aqui. O que pensam destas ideias? Como vêem a adoção da IA em Portugal?
Vamos continuar esta conversa?
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