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Teletrabalho: muito antes da pandemia, já se trabalhava a partir de casa.

Foto do escritor: Daniel Lança PerdigãoDaniel Lança Perdigão

Se pensas que o teletrabalho é uma invenção moderna, fruto das necessidades impostas pela pandemia, talvez seja hora de repensar essa ideia.

A verdade é que muito antes das videoconferências, das redes internet ultrarrápidas e das ferramentas de colaboração online, já havia profissionais a trabalhar remotamente, utilizando os meios disponíveis à época.

O conceito de trabalhar a partir de casa pode ter-se tornado normal nos últimos anos, mas as suas raízes são mais profundas do que imaginas. Este artigo vai levar-te numa viagem no tempo para perceberes como o teletrabalho evoluiu ao longo das décadas.


Image created by the author with the help of Creative Fabrica
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Algum enquadramento histórico

Em agosto de 1984, a revista brasileira "Informática" já abordava o conceito de teletrabalho, definindo-o como "o trabalho realizado por uma unidade descentralizada, desvinculada fisicamente do seu escritório habitual, e cuja atividade depende da utilização de meios de comunicação". Já tinham sido realizadas experiências notáveis desde 1962, quando uma empresa britânica de consultoria em informática implementou o teletrabalho, permitindo que cerca de seiscentos funcionários trabalhassem a partir de casa, utilizando terminais. Nos Estados Unidos, a ATT (American Telephone and Telegraph) previa que todos os seus funcionários estariam a trabalhar remotamente até 1990.

Embora a implementação inicial do teletrabalho tenha sido limitada a setores específicos, como a informática e os serviços bancários, a ideia de trabalhar a distância já se mostrava promissora. Na década de 1950, era comum nos Estados Unidos que serviços de produção de vestuário, têxteis e calçado fossem realizados em casa, ainda que, claro, não se utilizasse o termo "teletrabalho". Já nos anos 70, Jack Nilles (https://www.youtube.com/watch?v=akxuLVLfkAQ), enquanto trabalhava em projetos espaciais para o Departamento de Defesa dos EUA e para a NASA, cunhou o termo "telecommuting" (teletrabalho) em 1973. A sua proposta visava reduzir o tempo de deslocação dos trabalhadores, levando o trabalho até eles através de tecnologias de comunicação. Esta abordagem ganhou relevância durante a crise do petróleo, quando as empresas procuravam alternativas para reduzir custos com transporte.

No Reino Unido, Stephanie "Steve" Shirley (https://pt.wikipedia.org/wiki/Steve_Shirley) fundou a Freelance Programmers em 1962 (https://www.youtube.com/watch?v=d5nzJ1rQBew), permitindo que programadores, muitos deles mulheres, trabalhassem a partir de casa no desenvolvimento de software. Esta iniciativa pioneira proporcionou flexibilidade laboral e abriu portas para profissionais que enfrentavam barreiras no mercado de trabalho tradicional.


Photo by Creative Fabrica
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A situação atual

Com a pandemia da COVID-19, o teletrabalho tornou-se uma prática comum em muitas empresas, modificando a cultura empresarial para modelos híbridos. No entanto, alguns líderes empresariais criticam esta tendência, argumentando que causou um "declínio geral" na economia, produtividade e bem-estar. Por exemplo, Stuart Rose, ex-diretor da Marks and Spencer e Asda, afirmou que, nos últimos quatro anos, houve um retrocesso nas práticas laborais, produtividade e bem-estar no Reino Unido, atribuindo parte dessa responsabilidade ao teletrabalho.

Dados de uma pesquisa realizada em novembro de 2024 pela Oficina de Estatísticas Nacionais do Reino Unido indicam que 26% dos britânicos trabalhavam de forma híbrida e 14% completamente remoto. Em Espanha, o teletrabalho aumentou, atingindo uma taxa de 14,4%, com o modelo híbrido consolidado em 37,5% das empresas.

Já em Portugal, o teletrabalho registou um crescimento significativo. No segundo trimestre de 2023, cerca de 19% da população empregada (aproximadamente 960 mil pessoas) trabalhou a partir de casa com recurso a tecnologias de informação e comunicação. Destes, 25,9% trabalhavam sempre em casa, enquanto 34,4% adotaram um regime híbrido, combinando trabalho presencial e remoto. A Área Metropolitana de Lisboa destacou-se com a maior percentagem de teletrabalhadores, representando 43,3% do total nacional. Este aumento reflete uma adaptação das empresas e trabalhadores às novas dinâmicas laborais, impulsionadas pela necessidade de distanciamento social durante a pandemia.


Comparar entre estas épocas

Enquanto nas décadas de 1960 e 1970 o teletrabalho era uma prática emergente, restrita a setores específicos e dependente de tecnologias limitadas, hoje é uma realidade amplamente difundida. A evolução tecnológica, com a internet de alta velocidade, computação em nuvem e ferramentas de videoconferência, facilitou a adoção do trabalho remoto em diversos setores.

As vantagens iniciais, como a redução do tempo de deslocação e a flexibilidade de horários, mantêm-se. Contudo, surgiram novos desafios, como o isolamento social, a dificuldade em separar a vida pessoal da profissional e questões relacionadas com a cibersegurança. Além disso, a massificação do teletrabalho levantou debates sobre a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores.


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Conclusão

A história do teletrabalho demonstra que, embora não seja uma prática tão moderna quanto muitos pensam, a sua adoção em massa é um fenómeno recente. À medida que continuamos a navegar neste modelo de trabalho, é crucial equilibrar os benefícios da flexibilidade com estratégias que mitiguem os desafios associados.

E tu, como tens experienciado o teletrabalho? Quais consideras serem as principais vantagens e desafios desta modalidade laboral? Partilha a tua opinião nos comentários abaixo.

Daniel Lança Perdigão

2 de fevereiro de 2025

 


 

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